Os dados contabilizados não representam nem 10% do número real de animais mortos nas estradas
ALINE ALMEIDA
Da Reportagem
Mais de 18 mil de animais foram atropelados no Brasil neste ano. A estimativa é do Urubu Info, um sistema criado em 2014 pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (MG). O sistema reúne informações sobre a mortalidade de fauna selvagem nas rodovias e ferrovias e tem por objetivo auxiliar o governo e as concessionárias na tomada de decisão para redução destes impactos. Somente em Mato Grosso o sistema mostra 655 atropelamentos de animais nas estradas em 2017. O Estado é o nono com mais registros.
O número contabilizado não representa nem 10% da realidade dos animais atropelados diariamente. O biólogo Alex Bager, idealizador do Urubu Info diz que os dados são apenas os que são registrados no sistema. Mas na verdade, a estimativa é de que no Brasil 15 animais de todas as espécies são mortos por segundo, ou seja, 1,3 milhão por dia. “Nem sempre as pessoas comunicam a situação. A maior parte dos animais que morrem são de pequeno porte e muitas vezes as pessoas não registram. Estamos mobilizando para que as pessoas encaminhem os casos no aplicativo Urubu Móbile que pode ser baixado por meio do celular e é gratuito”, diz o professor.
Ao todo, no Estado, o Urubu Info aponta que foram 454 mamíferos atropelados, 77 répteis, 42 anfíbios, 82 aves, 655 no total. Nas Unidades de Conservação foram registrados três atropelamentos na APA de Chapada dos Guimarães, um na Estrada Parque Rodovia MT 040/361, 106 na Estrada Parque Rodovia MT 251, dois na Estrada Parque Rodovia MT 370 e três na Estrada Parque Transpantaneira.
O levantamento mostra que o Rio Grande do Sul é o Estado com mais registros com atropelamento com 4.388 registros, destes 2.220 mamíferos, 1.239 répteis, 44 anfíbios, 885 aves. Em seguida aparece São Paulo com 2.688 mamíferos, 548 répteis, 178 anfíbios, 903 aves, somando 4.317 atropelamentos. Ao todo no país foram atropelados 18.462 animais. Destes 9.821 mamíferos atropelados, 3.411 répteis, 1.413 anfíbios e 3.817 aves.
A Mata Atlântica é o bioma onde mais acontecem atropelamentos de animais, segundo o Urubu Info, desde 2014, quando teve início o levantamento, foram registrados 7.896 atropelamentos neste bioma. Foram 4.246 mamíferos. O Cerrado aparece em segundo, com 4.412 ocorrências no período, seguido do Pampa (3.847), da Caatinga (1.279), da Amazônia (779) e do Pantanal (223). O banco de dados é alimentado pelo público ou instituições parceiras, por meio do Urubu Mobile, um aplicativo desenvolvido para este fim.
Entre as espécies mais afetadas em todo o país está a capivara que totaliza 1.235 atropelamentos. Em seguida está o cachorro do mato com 1.001 atropelamentos, 526 gambá-de-orelha-branca atropelados e 437 tamanduás mirins, entre outros.
Ação – Mato Grosso deve contar com o primeiro Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas). A obra que será construída na cidade de Lucas do Rio Verde (334 quilômetros de Cuiabá), deve iniciar ainda neste ano. O Cetas é uma parceria entre o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Ministério Público Estadual (MPE), Organização não governamental (ONG) Amibem e a prefeitura da cidade.
O Centro de Triagem será construído em um espaço de um hectare, sendo 0,5 ha de área aberta e 0,5 ha de mata, doado pela prefeitura. Além dos R$ 500 mil para início das obras, a Sema e o MPE viabilizarão madeira de apreensão proveniente de ações de fiscalização da secretaria e do Ibama para a edificação dos recintos. A gestão do local será realizada pela ONG Amibem, com apoio de voluntários.
A proposta da Sema é ter cerca de cinco Cetas e Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) em várias regiões do estado. Atualmente os animais resgatados em Mato Grosso são destinados provisoriamente para os recintos mantidos pela Sema no Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental (BPMPA). O local abriga cerca de 150 animais provenientes de resgates ou entrega voluntária. A Sema resgatou e abrigou, nos últimos dois anos, 1.420 animais, a maioria vítima de atropelamento em rodovias.
Dicas – O risco de fatalidade no encontro entre os homens e os animais em rodovias não se restringe apenas aos animais. Uma batida com um animal de grande e médio porte pode ser trágico também para os ocupantes do veículo. Por isso a atenção deve ser redobrada, tanto para segurança dos animais quanto para condutores e ocupantes de veículos.
A dica é reduzir a velocidade em regiões com sinalização de animais na pista e manter o farol ligado para poder ter melhor visibilidade do animal. Outro alerta é para não buzinar e não ligar a luz alta, para não assustar o animal.