Em reunião, o Estado ficou de repassar R$ 2,5 milhões por mês, nos próximos três meses, aos cinco hospitais filantrópicos credenciados ao SUS
JOANICE DE DEUS
Da Reportagem
Após quatro horas de reunião, o governo do Estado e representantes dos hospitais filantrópicos, localizados em Cuiabá, fecharam acordo e decidiram retomar o atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Devido a dificuldades financeiras, quatro instituições credenciadas ao SUS ameaçavam fechar as portas. No encontro, realizado na noite da última quinta-feira, o Governo ficou de repassar R$ 2,5 milhões por mês, nos próximos três meses.
O recurso será destinado ao custeio do Hospital Geral Universitário (HGU), Santa Helena, Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá e Santa Casa de Rondonópolis (250 quilômetros, ao sul da capital) e o Hospital do Câncer. Além disso, o governo e os hospitais vão trabalhar em um plano conjunto para zerar as filas por cirurgias. “Vamos repassar R$ 2,5 milhões nos próximos três meses, reavaliaremos isso no final do segundo mês. Também fizemos uma proposta aos filantrópicos, que vão estudar na próxima semana a possibilidade do Estado contratualizar a realização de cinco tipos de cirurgias eletivas para zerar a fila de espera que chega a nove mil pessoas”, disse o governador Pedro Taques.
Há pouco mais de semana, as instituições suspenderam os atendimentos eletivos. Presidente da Federação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas Prestadoras de Serviço na Área da Saúde de Mato Grosso (Fehos/MT), Elisabeth Meurer, o atendimento seria retomado ainda ontem e a expectativa é que a demanda seja normalizada o mais rápido possível. “O governador reconheceu a importância dos filantrópicos, que são indispensáveis para a população e que trabalham com seriedade já que foram escolhidos para realizar as nove mil cirurgias”, pontuou.
A reportagem do Diário esteve ontem ouvindo parentes e acompanhantes de pacientes do HGU, Santa Casa e Santa Helena. Nestes dois últimos casos, familiares e funcionários afirmaram que o atendimento estava sendo realizando. Já no HGU, pacientes com consultas agendadas estavam sendo mandados para casa em assistência. Este foi o caso da filha da aposentada Maria Oliveira, de 66 anos, moradora de Jangada (160 quilômetros, ao médio-norte da capital). “Ela não foi atendida. Falaram que o médico não veio. Que o SUS está parado”, contou. “É muito triste. Não avisam nada e a gente sai de madrugada de casa e quando chega aqui não é atendido”, completou.
Conforme o governo, caso os hospitais aceitem em participar do programa de realização de cirurgias para zerar a filar do Estado, o pagamento dos procedimentos poderá chegar a até 300% do previsto da tabela SUS. Os recursos a mais devem ajudar no custeio dos procedimentos que consomem volume maior que o previsto pelo Ministério da Saúde.
Para o secretário de Saúde, Luiz Soares, a realização com urgências das cinco principais cirurgias será um grande passo para o Estado. “Pessoas estão há meses, até anos na espera por uma cirurgia geral, cirurgia vascular, cirurgia ortopédica, cirurgia ginecológica e urológica. Mulheres estão sofrendo com hemorragias e a Secretaria de Estado de Saúde não abre mão de fazer esse programa”.
Após o encontro o governo e hospitais emitiram nota conjunta na qual as unidades reconhecem que o Estado não tem dívida com os filantrópicos, também reconhecem os aportes realizados desde 2015. “Na nota, os hospitais reconhecem que os repasses a maior feito através da Portaria 19 (SES/2016) tinham validade de três meses e foram prorrogados por igual período, compreendendo seis meses de ajuda financeira”, afiançou.
Soares destacou ainda que o SUS passou a ser subfinanciados desde o início dos anos 2000. Destaca que nos últimos oito meses o Estado tem tomado medidas duras para combater o mau uso do dinheiro público na saúde e ressaltou que Estados e municípios estão bancando o funcionamento do sistema de saúde brasileiro. Quanto ao impasse com os filantrópicos, o secretário reconheceu a importância das unidades, mas lembrou do momento de crise e a falta de recursos. Atualmente, o governo investe R$ 65 milhões, por mês, em saúde.
Representantes dos hospitais também estiveram reunidos na última quarta-feira com o Ministério da Saúde (MS), em Brasília. Segundo Meurer, o Ministério ficou de enviar um representante para participar do encontro realizado com o Governo do Estado, o que não foi feito. Além disso, o órgão federal informou que não há previsão de reajuste da tabela do SUS, a qual as instituições consideram defasada há pelo menos 10 anos.