JOANICE DE DEUS
Da Reportagem
Moradores de rua, tráfico de drogas, roubos, furtos, prostituição e atuação irregular de flanelinhas. Estes são apenas alguns dos problemas enfrentados há décadas por quem vive e trabalha no Centro Histórico de Cuiabá, que em abril de 2019 estará completando 300 anos.
Até lá, Governo do Estado e a Prefeitura Municipal traçam estratégias para resgatar e garantir o direito das pessoas transitarem, com segurança, pelas ruas e espaços públicos, como o Parque Municipal Antônio Pires de Campos, mais conhecido como Morro da Luz, o Beco do Candeeiro, Praça Ipiranga e Praça da Mandioca.
Um balanço criminal feito pela Coordenadoria de Estatísticas da Sesp que mostra que as imediações da Ilha da Banana concentram expressivos casos de roubos e furtos. Entre janeiro a 21 de maio deste ano, foram registrados 153 casos de roubos a pessoa somente nesta região. Os períodos entre 18h e 21 horas e as terças-feiras são os que apresentam casos mais frequentes de assaltos.
Mas, as ações também estarão concentradas na Orla do Porto, que neste último caso já passou um processo de recuperação no trecho entre a Praça Luiz Albuquerque e a Avenida Miguel Sutil, mas ainda continua enfrentando velhos problemas, como a presença de moradores de rua, a maioria dependentes químicos, que perambulam pelas imediações cometendo crimes na ânsia de satisfazer o seu vício.
“Muitas pessoas transitam pelo centro de Cuiabá e é facilmente perceptível os lugares que servem para práticas criminosas. Vamos trabalhar integrados para fazer o fechamento definitivo destes locais trazendo ainda iluminação pública. Tenho convicção que com esta parceria teremos condições de mudar a história do centro e transformá-lo em um espaço urbanizado”, disse o secretário de Sesp, Rogers Jarbas, após um encontro realizado com representantes da administração municipal. Uma das intenções é desenvolver um trabalho ativo para fechar bares e comércios que servem como ponto de prostituição e de drogas.
No encontro, uma das questões levantadas pelos gestores de segurança pública é que nestes locais há aglomerações de usuários de drogas, o que favorece a depredação de prédios públicos e privados, furtos e acúmulo de lixo. Contudo, para comerciantes e moradores dessas regiões, apenas dissipar a concentração dos dependentes químicos desses locais não será o suficiente, pois propicia a criação de outras pequenas zonas de usuários pela cidade.
Portanto, não resolve o problema, assim como ocorreu com os moradores que estavam na “Ilha da Banana”. Retirados pelo poder público do lugar, eles foram para o Morro da Luz, Beco do Candeeiro e entorno da Igreja da Boa Morte. “Tem que ser feito um trabalho de recuperação desse pessoal. Tentar mostrar a eles que ficar nas ruas não é vida para ninguém. Mas, tem que ser um trabalho permanente e duradouro, com várias instituições”, acredita a comerciante Lucineide Cardoso de Oliveira, 44 anos, que mantém um estabelecimento comercial próximo à orla do rio.
Para ela, a região ainda carece de atenção e investimento por parte do poder público. “A orla tem uma boa visitação quando são realizados eventos. Depois, são mais as pessoas que vêm para caminhar e os visitantes que vêm de fora e querem conhecer o Aquário Municipal, que não está aberto para visitação”, lamentou. O Aquário está fechado para reforma, sendo que na manhã da última segunda-feira não havia trabalhadores no local.
O moto-taxista Eroaldo Siqueira, 51 anos, que atua em um ponto localizado entre o Morro da Luz e o Beco do Candeeiro, um dos pontos mais sensíveis localizados no Centro Histórico, também recebe com boas perspectivas a notícia do projeto de revitalização da área, mas avalia que reforço no policiamento é essencial para mudar o perfil da região.
“Ninguém passa pelo beco seja durante o dia ou à noite por que tem medo. Direto tem briga entre os usuários e é pedra voando de um lado para o outro”, comentou. “O melhor mesmo seria intensificar o policiamento, pois sem segurança é normal que as pessoas sintam medo e fujam do centro”, completou.
Para a comerciante Ana da Silva, 52 anos, as condições dos moradores em situação de rua também exigem mais cuidado. “Tirar essas pessoas das ruas não é algo fácil e nem será resolvido do dia para a noite. Mas, tem que ser feito algo e emergencialmente. Por que eles comentem crimes e afugentam os clientes, que deixam de vir para o centro e vão para os shoppings”, disse.
Porém, ela acredita que a própria revitalização deve tornar a região mais segura. “Mas, o centro ainda precisa de requalificação das praças e dos passeios públicos para melhorar a acessibilidade para todos”, diz. “No momento em que você requalifica o espaço e permite a interação de pessoas, isso sozinho já aumenta a questão da segurança”, acrescentou.
Com a união de esforços, as autoridades públicas acreditam que essa realidade possa ser mudada. “Avaliamos e pensamos em ações integradas para enfrentamento da realidade que hoje transforma o centro de Cuiabá em um espaço de vulnerabilidade. Um dos problemas é o tráfico de drogas e aqui na reunião criamos um grupo de trabalho para buscar uma solução que seja planejada, sistemática e duradora, no sentido de combatermos não apenas o tráfico de drogas, mas toda situação que faz com o centro de Cuiabá seja um espaço violento e desordenado”, frisa o secretário municipal de Ordem Pública, Leovaldo Sales.
Uma nova reunião já está marcada para o dia 04 de setembro, quando um estudo sobre as melhorias que serão implantadas já deverá estar concluído. O grupo de trabalho deverá contar ainda com a Vigilância Sanitária, Infraestrutura, Assistência Social e profissionais da área médica.