Ana Paula de Araujo Cardoso, que vende semijoias em domicílio na cidade de Piraju, no interior de São Paulo, está preocupada como vai manter a família – ela, o marido e o filho com necessidades especiais – a partir deste mês. Por causa da pandemia, ela praticamente parou de visitar os clientes. O marido, que trabalhava como motorista, está desempregado desde abril e não conseguiu um novo emprego. A renda se resume ao seguro desemprego, que termina agora, e R$ 600 do auxílio emergencial. “Dependo do auxílio, que vai para R$ 300 este mês. Fome a gente não passa, porque no interior um ajuda o outro. Mas a gente vai perdendo a dignidade.”
Mas o ponto central de preocupação, dizem especialistas, não é nem o fim do auxílio, mas a falta de um motor que garanta o crescimento da atividade econômica com as próprias pernas em 2021.
“O coronavoucher foi um movimento correto, mas tem de acabar mesmo, porque ele é tão caro que não é sustentável”, afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados. A questão, frisa, não é o fim do auxílio, mas é a ausência de uma recuperação dos empregos e da atividade permanente e que a economia comece a andar sozinha, com a volta dos investimentos. “O motor do investimento é o mais importante, e está ruim.”
Para o economista Fabio Silveira, sócio da consultoria MacroSector, o crescimento sustentável só virá com investimento e geração de emprego e renda. Entre junho de 2019 e junho deste ano, o número de desocupados aumentou em 10 milhões. Ele observa que um pedaço da queda na massa de rendimentos dessas pessoas o auxílio cobriu. No entanto, argumenta, a economia tem de andar com as próprias pernas. “O que falta para enxergar 2021 é ter a sinalização de que o investimento virá e, infelizmente, não tenho essa convicção.”
Já para o economista Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), se a pandemia retroceder e a confiança do consumidor se recuperar, a poupança acumulada durante o isolamento será direcionada para o consumo, a economia se recupera e o investimento virá depois. “Mas deve demorar um pouco, pois há ociosidade.”
POR ESTADAO CONTEUDO