Veterano venceu sua luta de despedida no LFA 132, e planeja competir no jiu-jítsu, além de ajudar jovens lutadores no Instituto Reação
Leo Leite fez sua despedida do MMA, aos 44 anos, contra o gaúcho Patrick Quadros, pelo LFA 132, na última sexta-feira, no Rio de Janeiro. O faixa-preta foi campeão meio-pesado e peso-médio do evento, quando ele ainda se chamava Legacy Fighting Championship. Teve quatro lutas pela companhia e se aposenta invicto.
Estes títulos e medalhas ainda ficam longe das duas batalhas que o brasileiro passou. Dois problemas sérios de saúde em sequência, em 2019 e outro em 2020, foram responsáveis por deixá-lo longe do cage por quatro anos. Leo teve uma tuberculose pleural que deixou dois terços do seu pulmão paralisado e logo depois um edema subcutâneo que ao injetar uma medicação chegou a um princípio de parada cardíaca. Recuperado, decidiu fazer a sua “última dança” no MMA, mas garante que ainda seguirá competindo no jiu-jítsu e ajudando os jovens lutadores.
– O Legacy para mim vai ficar sempre guardado. Primeira luta internacional que eu tive. Dois cinturões em duas categorias diferentes. Não tinha ideia se conseguiria voltar a lutar. Na tuberculose tive uma cirurgia de pulmão. Não sabia se conseguiria ter condição física para fazer uma luta contra um garoto de 29 anos. Foi especial estar lutando e aposentando pelo LFA – contou em entrevista exclusiva ao Combate.com
Leo Leite leva Patrick Quadros para o chão e vence em despedida no LFA — Foto: Ilan Pellemberg
– Em abril de 2019 comecei a preparar para uma luta no Bellator e minha respiração estava estranha. Meu gás não estava vindo, e já estava com quatro semanas de treino. Até que começou a me dar febre todo fim de tarde. Fui ao hospital fazer um raio-x e de lá já fui direto para ficar internado por 15 dias. Fiz todo tipo de exame, que não detectavam nada. Então entraram com o remédio da tuberculose e acabou com a febre. Deduziram que seria isso. Continuei com o antibiótico da tuberculose e foram nove meses de tratamento. É um tratamento muito demorado. A minha tuberculose foi pleural e, quando cheguei ao hospital, acabei tendo que drenar três litros de líquido da pleura. Ela estava inchada e atrofiou meu pulmão, que ficou com dois terços paralisado. Quando tirou o líquido, não voltou para o lugar e teve que entrar com tubo para inflar o pulmão e voltar para o lugar. Fiz fisioterapia de dar uma volta no corredor do hospital. Para um lutador foi difícil entender que não podia nem passar de dez minutos de caminhada. Foi chato.
O lutador explica com detalhes todo o acontecido e a recuperação da primeira doença. Após passar por meses de medicação e uma fisioterapia que limitava ao máximo um atleta acostumado a ir ao extremo, ele sofreu outro baque. A volta ao Bellator seguiu sendo adiada, e um simples furúnculo se tornou a maior dor da sua vida. O veterano chegou a alucinar de tanta morfina e, em uma aplicação normal de xilocaína, entrou em processo de parada cardiorrespiratória e viu a morte.
– Depois tive uma infecção na perna. Fui limpar um furúnculo no médico e acabou dando um edema subcutâneo. Foi uma dor que nunca senti na vida. A perna queimava e foram os dez dias mais doloridos da minha vida. Eu chorava de dor. Pedia para me colocarem em coma de tanta dor que eu sentia. Tomava morfina de quatro em quatro horas. Tinha até alucinação. Introduziram um cateter com remédio direto no meu nervo. Numa dessas injeções o médico resolveu colocar xilocaína para ver se segurava a dor. Ele optou por uma dose menor. Injetou e saiu do quarto. Passei muito mal, estava acontecendo algo estranho comigo. E eu sentia que estava morrendo. O médico veio e me disse para eu não apagar de jeito nenhum. E saiu correndo gritando socorro no hospital. Veio um monte de enfermeiras e médicos me socorrerem, injetando coisas em mim. Me balançavam como se tivesse aquecendo para lutar. Cheguei a me despedir do meu irmão e das enfermeiras chorando. Quando voltei ao normal, o médico falou depois que eu tive sorte dele não ter colocado a dose que tinha planejado, porque iria ter uma parada cardíaca e morrer. Só não tive naquele dia pelo meu tamanho. Foram duas porradas em sequência, tudo com luta marcada no Bellator. Depois veio a pandemia e fiquei quatro anos sem lutar. Com o pulmão não quis me arriscar.
Essas não foram as únicas dificuldades e o lutador explicou o motivo da carreira no MMA não ter seguido maiores rumos. Ele chegou ao Bellator com um status e expectativa muito grande, porém passou por algumas dificuldades. Uma luta em cima da hora contra Phil Davis e um erro de planejamento contra Chris Honeycutt, decretaram as suas duas derrotas da carreira e o fim da passagem pelo Bellator.
– Na primeira luta eu peguei muito em cima. Então não estava preparado e fiquei receoso de tentar levar para a luta agarrada. Iria cansar e não estava 100% fisicamente. Na segunda no Bellator, tive um overtraining. Estava muito bem fisicamente, treinado, passei três semanas nos EUA com o (Ronaldo) Jacaré. Na semana da luta já senti algo estranho e o Jacaré depois comentou que sentiu a mudança, que não estava com a mesma pressão. Passei do ponto e fiquei preparado um pouco antes da hora. Tive dificuldade e só sobrevivi. Foi meio desesperador. Depois tive a tuberculose, um problema na perna e a pandemia. Aí não voltei.
O veterano admite não largar os treinamentos e acredita que pode acrescentar na evolução dos jovens lutadores da Brazilian Top Team. Além disso, projeta fazer parte do Instituo Reação, ao lado de Flávio Canto, em uma nova área que estão pretendendo lançar.
– No judô eu não luto mais, não. Meu corpo não aguenta mais, mas no jiu-jítsu com certeza. Quero lutar o Mundial Master e fazer essas lutas casadas que os eventos tem feito. Não descarto uma luta de boxe, se aparecer. E eu mostrei na sexta-feira que eu estou bem em pé. A cabeça diz para não parar, mas o corpo pede. Já foram muitas lesões. Ainda vou operar a mão essa semana. Aposentei do MMA. Vou treinar e ajudar a garotada na BTT. O Delano luta agora no dia 3 pelo cinturão (do LFA) e tem uma garotada muito boa lá. Também está meio acordado com o Flávio Canto um projeto. O Instituto Reação, que eu vi surgindo em 2000, vai iniciar uma equipe de alto rendimento de jiu-jitsu, como tem de judô, e eu devo ocupar um cargo técnico ou coordenação nesse projeto.