* Adelson Silva –
Era uma vez um craque. Para muitos o melhor de sua geração. Tivemos ao longo da história do futebol grandes jogadores, grandes gênios da bola. Mas um me fez ser flamenguista. Isso ainda muito criança.
Minha avó, com quem passava os fins de semana dos anos 70, ligava todos os domingos o seu rádio. E que presente eu tinha dela. Eram belíssimas narrações gritando sempre: “Goooolllll de Zico, o Galinho de Quintino!”.
E assim minha curiosidade aumentava. Como será isso de gol todo domingo? Com o tempo pude entender. Um dia, assistindo tv, vi um gol de Zico em cobrança de falta. A televisão ainda era preto e branco (ironia do destino o que viria a ser as cores do nosso maior rival). Ali consolidou-se o meu interesse pelo futebol e minha paixão pelo Flamengo.
Depois descobri que as cores do uniforme eram vermelho e preto. Era uma coisa fantástica saber que todo domingo tinha gol do Zico. Esperava ansioso minha avó ligar o rádio de pilha.
Passava a semana com meus avós paternos e fim de semana com minha avó materna. Meu irmão não ligava e muito menos entendia o que era futebol. Mas eu já estava totalmente incorporado à mística rubro-negra.
Com nove anos de idade, já morando com meu pai e minha mãe, assisti sozinho o Flamengo ser campeão do mundo no Japão, em 1981. O jogo fora transmitido por volta da meia-noite de 13 de dezembro e todos já estavam dormindo menos eu, é claro!
o Flamengo foi campeão mundial ao golear o Liverpool por 3 a 0 com dois gols de Nunes e um de Adílio ainda no primeiro tempo. Todos os gols tiveram a participação de Zico, que foi eleito o melhor jogador da partida.
Era aquela tv de botão giratório. Fazia um barulho tipo tec-tec para trocar os canais. Eu já entendia a dinâmica do jogo. Entendia que Zico era craque. Que era o maior ídolo da história de meu time (até hoje ainda é).
Veio a Copa de 1982 e este ser de outro planeta fez uma Copa do Mundo fantástica. Pena não ter ganho o título mundial. Mesmo assim mostrou ao mundo toda a sua genialidade.
Foram muitos títulos, gols marcantes, partidas memoráveis e sempre com o sinônimo de craque estampado nas manchetes de jornais nas segundas-feiras.
Passou por contusões, cirurgias e mesmo assim retornava em alto nível. Toda semana esperava algo diferenciado e Zico assim o fazia. Tinha qualidades pouco vistas em outros jogadores. Zico era completo.
Considerando o fundamento, chute era praticamente ambi-destro, apesar da pouca estatura, cabeceava muito bem. Senso perfeito de posicionamento, jogava em qualquer posição. Na bola parada era mortal. Quantos gols de faltas foram marcados de tudo quanto é jeito. Bola rasteira, alta, média. Falta era meio gol para Zico.
O mestre das cobranças de falta. Atleta dedicado, treinava a exaustão esse fundamento. Fez muitos gols de bicicleta e voleio. Sem contar as assistências milimétricas e precisas. Estava sempre um, dois ou até três segundos à frente dos adversários, visualizando a capacidade de raciocínio durante um lance. Leitura perfeita do jogo.
Zico jogou, no Brasil, profissionalmente somente no Flamengo. Contestado ou não, será sempre o representante mor de uma nação revestida de um manto sagrado. Um rei de manto rubro-negro.
Vida longa ao Rei, vida longa ao Galinho de Quintino! Parabéns pelos 70 anos e pela felicidade que nos concedeu por ser brasileiro, por mostrar que o Brasil gerou esse craque que encantou o mundo e hoje recebe o devido reconhecimento por sua biografia.
Pena que o tempo passa e nossos ídolos se aposentam, mas ficam as imagens, as histórias, as lembranças. Alegrias e frustrações. Mas hoje é dia de comemorar o septuagenário do nosso eterno camisa 10, o dono do Maracanã. Meus agradecimentos pelas alegrias rubro-negras. Valeu meu rei, parabéns Zico!
* Adelson Silva é Jornalista e Professor de Educação Física em Mato Grosso